Homeopatia ganha espaço na agroecologia como aliada do manejo sustentável

Uso da homeopatia e de caldas naturais tem se mostrado benéfico nas hortas e roçados agroecológicos e vem sendo incorporado pelas comunidades Guarani do oeste do Paraná participantes do projeto OPANÁ: Chão Indígena
Por Assessoria de Comunicação FLD
Fotos: Ana Paula Soukef
A agroecologia considera as relações entre o solo, as plantas, os animais e os seres humanos de maneira interligada, articulando saberes tradicionais e conhecimentos científicos para construir sistemas produtivos mais sustentáveis e menos dependentes de insumos externos.
Diferente do modelo agrícola dominante na atualidade, que se apoia no uso intensivo de agrotóxicos, a agroecologia propõe práticas que mantêm a produtividade sem comprometer o equilíbrio ambiental e, especialmente, sem prejudicar a saúde. Seu foco também está em fortalecer a autonomia das famílias e em garantir a soberania alimentar, ou seja, o direito das comunidades de decidir o que e como produzir. Para isso, se utiliza de recursos disponíveis no próprio território para enfrentar os desequilíbrios do ecossistema.
Um exemplo é o uso de caldas e extratos naturais, preparados com diferentes ingredientes como cebola, alho, ervas e tabaco, para o manejo de insetos e doenças. Essas misturas, de fácil preparo e baixo custo, atuam como repelentes e fortalecem as plantas. Entre elas, é conhecida a calda de fumo, utilizada no controle da lagarta do cartucho, que afeta, frequentemente, os cultivos de milho.
Por meio do projeto OPANÁ: Chão Indígena, outro conhecimento vem ganhando espaço: a homeopatia. Valdeilson Ferreira de Almeida, assessor de projetos da Fundação Luterana de Diaconia (FLD) que atua junto ao Programa CAPA de Agroecologia, conta que a homeopatia tem se mostrado uma importante ferramenta de manejo agroecológico. O programa iniciou suas experiências com a homeopatia na agricultura nos anos 2003 e 2004, tornando-se, desde então, uma grande referência nessa prática.
Valdeilson explica que a homeopatia agrícola se baseia no mesmo princípio fundamental da ciência homeopática: “o semelhante cura o semelhante”. Em outras palavras, uma substância capaz de causar determinados sintomas ou desequilíbrios em um organismo, ou em um ecossistema, pode também ser usada para restabelecer seu equilíbrio.
A escolha do medicamento é feita por meio da repertorização, processo em que se cruzam os sintomas observados no ambiente ou na planta com os sintomas conhecidos dos medicamentos homeopáticos. Segundo ele, a homeopatia atua sempre pela restauração do equilíbrio, nunca pela destruição. “A ciência homeopática é uma estratégia de controle, não de extermínio. Se há um inseto causando problemas, buscamos equilibrar o sistema, e não eliminar o inseto. A homeopatia é sempre pela vida, nunca pela morte”, afirma.
Um dos principais desafios enfrentados pelas comunidades indígenas do oeste paranaense participantes do projeto OPANÁ é o controle das formigas cortadeiras, que gera preocupação constante entre as cuidadoras e cuidadores de quintais produtivos e roçados. Para isso, explica Valdeilson, é necessário compreender o comportamento e as características desses insetos, fazendo uma analogia com o ser humano: “As formigas, quando se sentem ameaçadas, partem para o ataque. Isso faz com que o formigueiro entre em desequilíbrio”.
A homeopatia, nesse caso, não é aplicada sobre os insetos, mas sobre o formigueiro, que é entendido como um organismo coletivo. Alguns dos medicamentos utilizados para o controle de formigas cortadeiras são Belladonna (extraído de uma planta) e Apis (extraído das abelhas), ambos com características de agressividade e reatividade, materializando assim o princípio da cura pela semelhança.
Cristina Campos, indígena Guarani residente em uma das comunidades de Guaíra (PR), conta que recorreu à homeopatia após perceber que as formigas estavam atacando as cenouras de sua horta. Ela pendurou garrafas com o preparado homeopático de cabeça para baixo sobre os formigueiros, deixando que o líquido gotejasse lentamente ao longo dos dias. “No dia seguinte, as formigas já começaram a abandonar o formigueiro, indo para outro lugar. Hoje o problema está bastante controlado e a horta está bonita e crescendo”, relata.
Experiências como a de Cristina têm se repetido nas demais comunidades participantes do projeto. Outros medicamentos bastante utilizados são o Staphysagria, para ataques de insetos sugadores, e Silicea e Bombyx, para lagartas que atacam os roçados de milho, ambos voltados ao fortalecimento das plantas e do equilíbrio dos cultivos. Valdeilson destaca que as medicações homeopáticas são de baixo custo, sendo uma ferramenta capaz de fortalecer não só as plantas, mas também contribuir para a autonomia das comunidades no cuidado com suas roças e hortas. O assessor ressalta ainda que a homeopatia vem se popularizando e que diferentes profissionais com formação específica na área podem exercê-la.